Archive for agosto 2013

Rosa

No Comments »

Rosa gostava de acordar cedo. Pensava que a melhor parte do seu dia era mais ou menos as 5 horas da manhã. Quando o silêncio transbordante, trazia a nitidez das  ideias e sentimentos.
Não sabia muito bem de onde surgira essa necessidade de se esquivar do aconchego da sua cama para ficar deitada no chão.
Rosa se concedia apenas um par de horas de sono. Em períodos de cansaço extremo preferia permanecer no banho por uma hora, a ter que mudar esse hábito que, de certa forma, trouxe equilíbrio ao seu coração.
Já não tinha mais a intensidade dos 24 anos. Podou todos espinhos que machucavam qualquer ser que se dispusesse a tocá-la.
O que Rosa não tinha concebido, é que ao arrancar os espinhos, ela transformou-se em uma pessoa seca e quebradiça.
Já não filosofava quando conversava com sua pessoa favorita. Já não aquecia ninguém com seus abraços. Já não cativava as pessoas ao redor com suas risadas contagiantes e espalhafatosas.
Os detalhes já não contavam. Se o todo não fosse digno de atenção, então nada importava.
O cigarro deixou de leva-lá a reflexões e epifanias constantes, e tornou-se mero mau cheiro em seus dedos, cabelos, corpo e roupas.
As músicas, antes preferidas, hoje não possuíam impacto algum.
E Rosa foi se corrompendo. Tornando-se Margarida. Orquídea... Até deixar sua essência ser suprimida pela necessidade de suavizar sua interação com o mundo.
A solidão, antes alívio e tranquilidade, hoje tornou-se o martírio de todos os seus dias.
O paradoxo de ter tornado-se a demanda necessária, e ser abandonada, exatamente por isso.

A sensibilidade de Damien Rice

No Comments »

Particularmente tenho um amor incondicional pelo cantor Damien Rice. Praticamente tudo o que ele faz é genial. Talvez por, de certa forma, me encaixar em cada palavra que ele compõe, e a elaboração de arranjos e melodias suaves – mas que se intensificam a cada minuto.  Não é a toa que deixei de lado um pouco meu gosto por vocais guturais e guitarras mais pesadas. Nutro também uma simpatia pelo violino e violoncelo, presentes em quase todas as músicas de cantor/compositor/instrumentista - que tem um apego grande à melancolia.

E por falar em Damien, meu antigo blog, intitulado ‘Cold Water’ teve o título inspirado em uma de minhas canções favoritas, do álbum 'O', lançado em 2002, e que tem uma história muito interessante. O disco foi produzido dentro de um quarto, por conta do baixo orçamento que ele tinha na época, com tiragem limitada e tudo mais. Ele nunca imaginou que a fama chegaria logo em seguida. A famosa música ‘The Blower’s Daughter’ que embalou o filme Closer e rendeu diversos prêmios ao artista, consolidando o seu bom gosto e genialidade.

O irlandês embalou as melhores e piores experiências da minha vida. E devo acrescentar que apesar da maioria das pessoas que sofrem decepções amorosas preferirem não voltar a ouvir novamente certa música/banda, eu simplesmente não acho isso um problema.  Relaciono Damien Rice a um momento bom, sem jamais ‘sujar’ o sentimento que a melodia e letra me remetem.
E por falar em letras, devo acrescentar que todas elas são intensas, e parecem conversar com o nosso âmago de forma clara e direta. Impossível não se emocionar e não conseguir parar de ouvir.
Apesar de Damien não compor músicas novas já há algum tempo, ressalto que vale muito a pena se dispor a conhecer sua obra. 

(Inclusive a música 'Grey Room’, do álbum 9, que deu origem ao nome deste humilde e despretensioso blog). 


Links: