Rosa

Rosa gostava de acordar cedo. Pensava que a melhor parte do seu dia era mais ou menos as 5 horas da manhã. Quando o silêncio transbordante, trazia a nitidez das  ideias e sentimentos.
Não sabia muito bem de onde surgira essa necessidade de se esquivar do aconchego da sua cama para ficar deitada no chão.
Rosa se concedia apenas um par de horas de sono. Em períodos de cansaço extremo preferia permanecer no banho por uma hora, a ter que mudar esse hábito que, de certa forma, trouxe equilíbrio ao seu coração.
Já não tinha mais a intensidade dos 24 anos. Podou todos espinhos que machucavam qualquer ser que se dispusesse a tocá-la.
O que Rosa não tinha concebido, é que ao arrancar os espinhos, ela transformou-se em uma pessoa seca e quebradiça.
Já não filosofava quando conversava com sua pessoa favorita. Já não aquecia ninguém com seus abraços. Já não cativava as pessoas ao redor com suas risadas contagiantes e espalhafatosas.
Os detalhes já não contavam. Se o todo não fosse digno de atenção, então nada importava.
O cigarro deixou de leva-lá a reflexões e epifanias constantes, e tornou-se mero mau cheiro em seus dedos, cabelos, corpo e roupas.
As músicas, antes preferidas, hoje não possuíam impacto algum.
E Rosa foi se corrompendo. Tornando-se Margarida. Orquídea... Até deixar sua essência ser suprimida pela necessidade de suavizar sua interação com o mundo.
A solidão, antes alívio e tranquilidade, hoje tornou-se o martírio de todos os seus dias.
O paradoxo de ter tornado-se a demanda necessária, e ser abandonada, exatamente por isso.

This entry was posted on quarta-feira, 21 de agosto de 2013 and is filed under . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.